quinta-feira, 30 de abril de 2009

Refúgio


Bom... É... Meu nome é... Bom, eu queria começar... É! Eu não estou bem. E dizer assim, pela primeira vez, eu não conheço o grupo ainda... Eu fico sem graça.
Eu sei, eu sei que eu posso ficar a vontade, se isso bastasse. Se, sabendo disso, eu conseguisse dizer alguma coisa, mas veja só, eu já estou dizendo... Eu falo muito, falo nada...
Eu não estou bem, eu sei que não estou bem... Foi até por isso que eu resolvi vir aqui, eu preciso de um refúgio. Um lugar para falar, mesmo que eu não fale nada com nada, mas... É para falar. Falando, já está bom, não é? É... Bom, se eu pudesse cantar, a música que me vem a cabeça são os gritos de Ana Carolina... Seu Jorge: Não Vou Nada Bem! Aquela que todo mundo suicida... Não, jamais! Não estou falando em suicidar, muito pelo contrário, se eu vim aqui é porque eu quero viver. Viver de uma forma melhor, entendem?
Eu estava ouvindo a história de todos vocês... É, a vida de ninguém é fácil, mas a minha às vezes parece ser mais difícil do que as outras... Não sei o porquê. Talvez seja porque eu a vivo... É... É isso, o problema sou eu.
Eu estou sem graça de começar a falar, logo de cara... É a minha primeira vez aqui no grupo. Isso é normal, não é? Assim, ficar sem graça, na primeira sessão. Eu não conheço ninguém. Além de eu não me conhecer, eu não conheço ninguém aqui...
Estou abafado, descobri isso. Eu sinto que estou abafado. Muito! Nossa!
Bom... Era só isso mesmo, por hoje... É que... Eu não estou bem.

domingo, 26 de abril de 2009

O Zoológico de Tennenssee


Na revista Bravo! do mês de março, na coluna Máscara, Amanda Wingfield, personagem da peça O Zoológico de Vidro, incorporada em Cássia Kiss, deu uma entrevista falando de seu relacionamento um tanta quanto turbulento com seus filhos, Laura e Tom. Foi aí que começou o meu interesse pelo espetáculo, em cartaz, no Palácio das Artes, neste final de semana. E eu fui lá conferir.
O texto é de Tennensee Willians e dizem ser autobiográfico. Como a própria Cássia disse no final do espetáculo, é uma peça que valoriza o ator por sua profundidade.
A história gira em torno das preocupações exageradas de Amanda com seus filhos. Ela tem medo de sua filha se tornar uma solteirona e também não quer que seu filho passe o resto de sua vida trabalhando em um depósito, ganhando pouco dinheiro. Com isso, ela acaba sufocando seus filhos e causando muitos conflitos.
Quando acabou o espetáculo, Cássia Kiss avisou que no final de cada sessão, eles costumam ficar mais trinta minutos para discutir a peça com a platéia, lógico, com quem se interessar. E eu, é claro, fiquei para participar do "mine pocket debate". Foi super interessante ouvir os atores falarem do processo de criação e pesquisa e discutirem conosco sobre os temas que a peça retrata.
Está sendo tão interessante ter essas experiências com o teatro. Percebo que há uma nova dinâmica entre os atores e a platéia. Há um desejo de tirar a espectador da passividade e trazê-lo para realidade do espetáculo. Há um envolvimento maior com o público. Foi o mesmo com A Alma Boa de Setsuan, os personagens conversavam com a platéia antes da peça... Muito bacana.
Tudo isso está enriquecendo demais a minha "bagagem" artística. Espero, em breve, registrar a minha ida a outros espetáculos aqui.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

B'day



Porque menino, por quê?

Porque tanta idéia?

Para quê tudo isso?


Nesse dia, 24 de abril (data do meu nascimento), celebro minha vivência falando de mim. O eu, interno, que é orgânico, dotado de emoção, não muito, porém, racional.

- Quem é você? Perguntou ele, bem baixinho, como se fosse um murmúrio.

- Quem é você? Respondeu o outro, no mesmo tom.

E nesse silêncio, eles se conheceram. Eles, ele, o próprio, o mesmo... Eu. E eu me conheço? Não, definitivamente não. Mas eu vivo!

- Eu tinha o costume de me olhar no espelho. Era agradável para mim, não sempre, quase nunca, mas algumas vezes era agradável me olhar. Reconhecer-me no meu próprio reflexo, exposto ali, aqui, na minha frente. Detectei certas semelhanças entre mim e ele, o que acarretou em uma séria implicância.

Eu gosto de mim. Muito! Apesar de muito me contrariar, de trair e, principalmente, não obedecer aos meus comandos... Repito:

Eu gosto de mim.

__gosto da vida.

__+osto de livro.

-----sto di escrever.

------to do rir.

-------o du arte em si (em dó, em ré, em mim, também).

---------de ti e dele, também.

- Ainda assim, não posso negar, há certas coisas que insistem em me incomodar. Meu, eterno, irritante eu! Tão estranho.

- O que é estranho?

- Eu.

- Vamos ao que interessa, jogo rápido, bate bola... Um livro:

- Só um?

- Está bem, três.

- O Mundo de Sofia, O Pequeno Príncipe e A Casa dos Budas Ditosos. Sempre gostei de livros. Não os lia, quando era criança, mas gostava de ter. Hoje, ainda gosto de ter livros (comprar), a diferença é que comecei a ler.

- Um filme:

- A Partilha, é brasileiro (AMO!). Porque eu descobri as Frenéticas e foi amor a primeira vista: Dance bem, dance mal, dance sem parar...! É o meu lema.

- Uma música:

- Seduzir, de Djavan: Vou andar, vou voar, pra ver o mundo...! Minha vida tem trilha sonora, a cada época, uma música especial.

- Inverno ou verão?

- Inverno... Sempre me inspirou bastante. Frio com chuva então... Nem se fala.

- Falar de nós mesmos, de forma direta, é tão difícil, não acha?

- Porque muitas vezes não sabemos o que se passa dentro de nós. Eu, por exemplo, reconheço-me, mas não na totalidade do meu ser.

- Posso continuar com as perguntas?

- Tudo bem.

- Uma memória:

- Sabe, eu costumava inventar histórias na minha infância. Montava direitinho na minha cabeça toda a trama. Lembro-me que eu tinha vários amigos imaginários. Se tem uma coisa que eu nunca poderei reclamar, será de não ter sido criança. Eu fui criança até o fim, quando meu tio dizia que eu estava grandinho demais para brincar com bonequinhos.

- Bom, para encerrar a conversa... Uma frase:

- Uma citação?

- É.

- Pode ser duas? É que eu fui olhar no meu caderninho de notas e vi duas perfeitas.

- Está bem.


Quem não é um acaso na vida?

Clarice Lispector


Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existem.

Oscar Wilde


- Obrigado.

- De nada.

- Ah! Já ia me esquecendo... Parabéns.

- Parabéns!

terça-feira, 21 de abril de 2009

E então,



é aqui? Não só aqui, mas, também. É aqui, onde escolhi para servir de ponte entre mim e o mundo. Entre mim e a vida lá fora, mesmo que ela seja assim: vazia, ausente, oca. Louca! Mesmo sabendo que tanto o mundo externo, quanto o interno, é um só. Um espelho; tão grande, vasto mundo. Devasso.
Essa música já faz parte da minha vida. Essa música completa a rotina. Às vezes sexta, às vezes quinta, quarta, terça... Porque não, no domingo? Também! Faz parte.
Eu, observador que sou, no meu silêncio, bem no íntimo, tenho analisado as relações estabelecidas entre pais e filhos. Meus pais e eu. Alias, quantos pais, não? Quanto! Muito, muito... Desconfio que haja uma maldição das gerações, algo escrito no destino, aqui se faz, aqui se paga. Vejo os erros dos pais sendo repetidos pelos filhos, em proporções maiores, ou, iguais. Há alguma herança nessa história, sei que há. Seria preciso um estudo, bem aprofundado.
Família é algo tão importante em nossas vidas. Tão importante. É base, é chão. Sou grato pela família que tenho, do tamanho que é, por DEUS ter promovido esse encontro maravilhoso na minha estadia na Terra. Obrigado, Senhor. Muito obrigado. Se sou assim, imperfeito, mas, do meu jeito, é por fazer parte da família que tenho. Esses, que me cercam... Moldam o meu jeito. Sou fruto desse meio. Sou grato por isso.
Falei de Deus... Senhor! Sinto-me culpado por ter me afastado de ti, vejo claro a sua ausência. Vejo os pensamentos que me assaltam: Deus é uma criação do homem? Um "deus" pra chamar de meu? É assim? Não, eu sei que não é. Já senti sua presença, antes, mais forte do que agora, e sei como é ser iluminado por ti. Ainda vejo suas bênçãos, suas intervenções. É claro para mim. Claro demais.
Sinto falta das leituras do evangelho, sinto falta de sentir aquela paz, aquele bem-estar que Sua presença provoca. Não ouço os louvores que ouvia, não leio as palavras que costumava a ler, não vou a igreja... Tenho me ausentado nas orações... E mesmo assim, vejo que o Senhor está comigo, não em plena comunhão, mas sei que o Senhor acompanha os meus passos. Eu sei. Eu sinto. Obrigado, meu Deus.

sábado, 11 de abril de 2009

Uma olhar "Woody Allen" da vida


Uma psicótica (Penélope Cruz).
Uma neurótica, outra também (Scarlett Johansson e Rebecca Hall).
E no meio desse triângulo: um homem (Javier Bardem).

...Por trás do roteiro, o fantástico Woody Allen!!! (palmas para Allen)

Em Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen fez um trabalho fantástico, com personagens fortes e intensos. Mostrando uma visão profunda sobre os relacionamentos amorosos, onde três mulheres, com personalidades diferentes, vêem-se desconcertadas sempre que encontram um mesmo homem, Juan Antonio.
Vicky é ao mesmo tempo insegura e convicta de suas ações, está prestes a se casar e prefere levar sua vida previsível, a entrar na disputa por Juan Antonio. Ela tem medo de arriscar. Cristina é sedutora, não tem certeza do que quer, mas, sabe o que não lhe convém. Está aberta a tudo e não vê impasses em viver um triângulo amoroso com Juan Antonio e sua ex-mulher... A Maria Elena, que é o tipo de mulher surtada, impulsiva e inconsequente. Ela dá o tom dramático ao filme. Suas aparições sempre mudam o rumo da cena.
Por último e não menos importante... O próprio Juan Antonio. Ele vive uma relação de amor e ódio com sua ex-esposa. Por mais que ela tenha tentado o assassinar, ele gosta e preocupa com ela. Ele é consciente das suas atitudes e sabe que qualquer relacionamento que for engatar, correrá o risco de acabar com as idas e vindas de sua ex. No entanto, como macho alfa (comedor), ele não deixa de seduzir as mulheres a sua volta.
O filme tem uma locação maravilhosa! Confesso que me deu uma puta vontade de ir a Espanha e passear por todos aqueles pontos turísticos mostrados no filme. Também não posso negar que fiquei encantado com a atuação da Penélope Cruz. Ela estava fantástica como Maria Elena. Está aí o motivo por ter recebido o Oscar de melhor atriz coadjuvante esse ano. Ela realmente deu um show de interpretação.
Assistir a um filme assim sempre me deixa empolgado. Eu penso que um bom filme deve ser assim, que nos deixa cheio de questionamentos, com vontade de discutir sobre os temas retratados, que nos causam frisson enquanto assistimos... É o cinema, como um expoente da arte, fazendo uma releitura da vida cotidiana.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Abriu?


Eta, abril! Meu mês de mudanças, de nascimento, de renascimento. Abril! Saudades de ti, garoto.

Sabe, tenho escrevido muito. Muito mesmo! O mais bacana, ando descobrindo a minha escrita, o que é fantástico. Como um bom autor é, em primeiro lugar, um bom leitor... Tenho me dedicado às leituras de alguns dramaturgos interessantes: Maquiavel (A Mandrágora), Bertolt Brecht (A Alma Boa de Setsuan)... E agora estou lendo/estudando Stanislavski... Ah, grande Stanislavski!
Também estou lendo Drummond, como disse a alguns 'posts' atrás... Descobri Drummond. Alias, descobri-me nele, em sua poesia. Estou lendo "A vida passada a limpo", logo de cara, no "poema-orelha", vi-me apaixonado por sua poesia... E depois veio a "Nudez":

"Ó encontro de mim, no meu silêncio,
configurado, repleto, nunca casta
expressão de temor que se despede."

C.D.A

Lindo! Bravo!

Como eu disse, estou lendo muito "teatro". Acho que foi a forma de "matar a saudade" do palco, das aulas... Repito mais uma vez, e repetirei quantas vezes achar necessário: teatro é tudo! O teatro me alimenta. Nunca pensei que sentiria essa "dependência".
Eu amo arte, eu faço arte, eu quero multiplicar a arte. Mostrá-la, transferi-la, servir de ponte para ligá-la ao mundo. Reticências...

No mais, tenho estudado. Vivido. Divertindo até!

Descobri que apesar de tudo o que já me aconteceu nesses "longos quase-18 anos", eu sou privilegiado! Por quê? Porque eu sou otimista. Nunca fui diferente. Por mais que eu tenha momentos de tristeza, que tenha, sim, sofrido perdas (mudanças em minha vida), o pensamento positivo nunca saiu da minha cabeça. Nunca!
Isso me veio a cabeça dia desses, enquanto escrevia em meu diário: eu estou feliz. Isso já é o bastante.