quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ver!ssimo

O ano não se acabou, mas muitas coisas se foram.
Há um vir e devir constante.
Há também a necessidade.
Há um ano Ver!ssimo,
marcado por sua brevidade.
Obrigado.




"A limitação da fruição aumenta a sua preciosidade." 

A Transitoriedade (1916), Sigmund Freud
 
Obs.: 2011 marcou meu! coração.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Ninguentantarigidez

Pedra bruta,
do chão machuca.

Arrisque pisar
descalço. Pé
cascudo que
seja, não pisa
tranquilo, sem
uma peleja.

Pedra Polida?
Pedra lascada,
isso sim! Carrega
consigo memória
primitiva.

Ah, Pedra...
Tu ensaias
outros acordos
com tecido
sensível dos
homens...

Oh, Pedra,
tu feres! Tu
feres.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O tempo e sempre


"Tudo tem o seu tempo determinado, e há
tempo para todo propósito debaixo do céu;
há tempo de nascer e tempo de morrer, tempo 
de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar e tempo de curar; tempo de
derribar e tempo de edificar;
tempo de chorar e tempo de rir; tempo de 
prantear e tempo de saltar de alegria;
tempo de espalhar pedras e tempo de 
ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de
afastar-se de abraçar; 
tempo de buscar e tempo de perder; tempo
de guardar e tempo de deitar fora;
tempo de rasar e tempo de coser; tempo de
estar calado e tempo de falar;
tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo
de guerra e tempo de paz."

Eclesiastes 3. 1-8

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Áh

ou O mesmo e o cansaço

o tato insiste.
a pele, o odor
e essa danada
fixação. 

Acarneagrega.
A carnesfrega.
A carne nega.

     
        pegar,    largar, 
          encostar, soltar, apertar     
     tocar, arredar, afrouxar
      aproximar, afastar,
    sentir

Sente. Sente
e se apega, e se
pega pensando.
Sente. Sente
e não pega, e se
apega pensando. 


O tato insiste.
a pele, o amor
e essa danada
repetição. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ainda – do verbo existir

A vida está pobre e o discurso se tornou enfadonho. De tanto preferir o silêncio, gritou. Mas gritou mesmo, de horror! É a ausência implacável.
*

É tudo e correria. Para onde corres? Não os sigam!

*

Experimente brincar de aparecer e desaparecer. Faça-o pelo apelo do peito, palpitando exigente desejo; caso contrár
                                                                                                                      
                                                                                                                                   
                                                                                                                     , io

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Da (minha) ausência e falta de atenção...

" Atirei um limão n'água,  
antes não tivesse feito.  
Os peixinhos me acusaram  
de amar com falta de jeito."

Lira do Amor Romântico Ou a eterna repetição,

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Dorme, meu filho

O dia lá fora está lindo, mas aqui dentro tudo continua triste. Tem feito dias difíceis.
E eu insisto em não dormir...
- Até quando?


Consolo na praia

Carlos Drummond de Andrade

Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia D(rummond)

Esta não é uma homenagem, 
tão pouco uma comemoração. 
É apenas um recado,
anunciando o aniversário 
de Carlos Drummond.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ou A quase poesia do ser

É preciso ser e sentir
a sensível ação do eu.

É só se ouvir, perceber
no vazio o inaudível espaço
do existir. Abafado.

Ser onde não se
escreve, quando não
se inscreve.

Ser o ausente
em si e por si
sem medo.

só sendo.
  
"O essencial é invisível aos olhos."
  O Pequeno Príncipe,
Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bagagem da Infância

Da minha infância, carrego comigo a criatividade, matéria-prima para continuar produzindo arte.

Um Feliz Dia das Crianças!

"Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam:
O que você quer ser quando crescer?
Hoje não perguntam mais. Se perguntassem,
eu diria que quero ser menino."

Fernando Sabino

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Asfaltar

        ou A Ausência – emprestada do Outro

É nesse  hi to
Nesse estreito
espaço que 
me ncaixo.

"A ausência é um estar em mim."
Ausência, de Carlos Drummond de Andrade

domingo, 18 de setembro de 2011

"É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."
                                   O Pequeno Príncipe

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

I ♥ War

Essa onda
por hora me
afoga.

Ela, água
do Rio, no
rio deságua.
Não antes
de arrastar-me
na ressaca.

Você chama,
revolto... e Eu vou...
consentindo...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Driblou os medos e foi... De olhos fechados,
para não ter que encarar a Altura.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Hoje eu só tenho uma coisa a dizer:

- Eu me deslumbro com o mundo!


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

sobreVoar

É que nesta noite eu sonhei que sabia voar.
Alcei-me por sobre as núvens,
ensaiei manobras rasantes...


só sei que voei,
sim, voltei.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Desarmar

Dizer sim
a um não à toa,
atroa!

Dizer não
assim, numa boa...
(Por mais
que você doa)
Doemim.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Meu! Cérebro

"Só eu posso pensar se Deus existe,
só eu! Só eu posso chorar quando
estou triste... só eu."

Cérebro Eletrônico, Gilberto Gil


Às vezes eu queria ser diferente, queria pensar menos, questionar menos, indagar menos... Eu gostaria de ser simples, fácil de compreender. Ser como aquele que vive e só vive. Age por instinto, pelo faro. Segue a intuição e corre riscos. Eu corro e me arrisco. Presumo que sempre! Mas o problema é que eu penso e o pensamento adia a ação e me angustia.
Uma amiga me disse que há pessoas que acordam tristes, mas levantam da cama e vão tomar o seu café da manhã, entram para o chuveiro e em seguida saem para trabalhar/estudar... Eu não!, eu paro e penso: por quê?
Em alguns momentos eu penso que o curso de psicologia me deixa mais neurótico, mais desconfiado. É difícil pensar que um "charuto é só um charuto". Se eu fizesse engenharia, eu acredito que seria diferente. Não que eu quisesse, mas é que eu não estaria tão envolto com a contrução da minha subjetividade, e sim, com alguns prédios, espaçonaves, etc. Por mais que tudo o que fosse projetado da minha mente tivesse um pouco de mim, ainda assim, seria diferente... Ou não!
Às vezes eu me incomodo mesmo com essas coisas, mas por outro lado é bom ver que nada passa sem deixar sua marca, sem provocar um (novo) pensamento, um questionamento, uma pulga na orelha que seja, dessas que demora a coçar, mas quando coça...
Às vezes eu sinto. Sinto e penso, penso tanto que quase enlouqueço. É o preço que pago por ser da humanas.

"E sei que cérebro eletrônico
nenhum me dá socorro
no meu caminho inevitável
para a morte. Porque sou vivo,
sou muito vivo e sei
que a morte é
nosso impulso primitivo"

... na voz de Marisa Monte

domingo, 24 de julho de 2011

Andar Brincar biCicletar

Eu que nunca andei
de bicicleta,
encarei de uma
só vez aquela
"magrela".

Eram passos
descoordenados,
mal elaborados,
tropeçando nos
pedais...
Foram tombos
imprecisos
nos bambus e
lamaçais...

Chinelos
arrebentados,
filete de pele
rasgado na
raça e mais
uma porção
de roxos pra
coleção.

E por fim o
além... Ventinho
manso levando o
guidom... Firme
na direção.

Encarou os
buracos, desviou dos
obstáculos e coroou o
sorriso no rosto,
vitorioso!

Foi na roça,
foi à "rua". Foi
da vontade
de andar, foi
por tentar que
acabei por
brincar de
bicicletar...

sábado, 16 de julho de 2011

f(p): Oe² + Si+A

Sinto-me preso
pela poesia.
Mas poesia não
prende, ou
prende: poesia
liberta. Mas eu
cada vez mais
amarrado a
esse gênero.

É essa métrica...
Equação de
primeiro, segundos,
terceiros graus...
Repleta de incógnitas,
sinais e decimais...
Acabo por algemar-me
a essa complicada
função.

Tem-se própria
geometria... Traça-se
os eixos das abscissas
e coordenadas.
Promove encontro
entre os pares
ordenados.
Tudo para
desenhar aquela
danada parábola!

E aí, sim, a(s) solução(s):
Para f(a) = x  temos...
Para f(b) = y
vemos...

Resta saber se
o resultado satisfará
a expressão... se não terá
trapaceado seu valor.

Sinto-me preso
à poesia. Sinto
às vezes se
tornar difícil
para calcular.
[e (eu)]     

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Até quando fugirás?

 ou Poema sobre a repetição

Impressiona-me
perder de
vista numa
fração espremida
de vida essa
sua feição.

Acontece
sempre no
exato momento,
daqueles bem
raro, quando minha
percepção falha
nessa sua fuga
bandida.

Vejo forma crua
semprenua facilmente
se esgarçar...
 
Essa sua
beleza vai-se
antes mesmo
de um primeiro
toque.

Precipitadamente
ameaçadamente
se desmente,
desprende.
 
Será o
peso? Será
o custo? Será?

Será Sereia
encantadora
traiçoeira.
Afogará esse
amor numa
fogueira
(por não
saber o alimentar).

sexta-feira, 27 de maio de 2011

ó[io

Eu [].                             
                                                                                            
Eu [  ].                                              
                                                                                     
   E [u].                    
                                                                                      
  [Eu].                                                
                                                                 
[E]u.                    
                                                                
[  ] Eu.                                                 
                                                                 
                                 [  ]...                                                            

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ausente




















































































 – Tão presente, que você nem o sente.

domingo, 24 de abril de 2011

Meu! aniversário

Pensei, repensei. Escrevi, desmanchei... Tentei resgatar o que ainda restava de Filipe no Filipe que sou. Bolei vinte chatíssimos aforismos e quase no final percebi um tanto de mim em mim mesmo. Pelo visto nada mudou e eu continuo vivo! E festejo meu vigésimo aniversário com a emergência de bicho ave recém nascida das cinzas:

A Gravedez de um Mito

O sol provocara
a Terra naquele
dia. Logo cedo
se percebeu 
temperatura d'água
se elevando.

O mar se 
agitava. Espumava, 
tomado por 
tamanha bravura.

Via-se borbulhas: 
moléculas d'água 
engravidando, 
virando bolha.
Bolsa embriagada
de líquido
amniótico.

Era possível 
enxergar o embrião
vermelhosangue
sofrendo mitose:
Bicho se
fazendo ave.

A bolha
se protegia.
Criava casca.
Mantia temperatura 
e protegia sua
cria de outras
vias, de
outras vidas. 

E o bicho
estremecia.
Bicava, bicava
e anunciava
que estava de 
partida.

De fora,
via-se o ovo 
ágiltado.
Fruía de
pouco espaço.

E aos
poucos se
ouvia os
primeiros
pios. E
se via ave
de penas
vermelhofogo
ganhando
corpo.

Renascia
então a fênix.
Bichomito
renegociando
a vida.

Carregava
consigo a
memória de
antigos vôos
com o viço
de uma
nova vida. 

P.s.: Pouco depois de eu ter completado uma década minha mãe se mudou para os EUA e a vida por aqui ficou bem diferente. Do despertar dessa décimasegunda primavera eu espero pelo seu retorno, ambiciono um prazeroso futuro profissional e só peço a Deus que a Arte nunca me abondone, pois sem ela, como diria Renato Russo: "eu nada seria". É isso, um feliz aniversário!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Em queda

 ou de Corvo a Fênix

No céu,
o corvo. Preto 
inconfundível
desfazendo-se
no espaço.

Voar lhe
pedia um esforço
sobre-humano
e ele, na
condição de
bicho-ave,
mal se sustentava
no seu exercício
de espécie.

Suas penas
se soltando...

Cinzas de
uma chama
que não se vê.

Patas
ansiando por
um galho...
um consolo,
um solo que fosse.

Ali estava: Frágil
corpo desfiado. 
Depenado! 

Cai
    indo

L e v e                          

Permitindo
a gravidade
agir. Pesando-lhe
o corvocorpo...

E ele
sumiu, en
      (terra) 
      ndo-se
                 no ar.

Uma hora
ele há de ressurgir.
Como uma fênix
ele renascerá. 
Ah, se há!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Uma tribulação num Minifesto

Às vezes me atribulo: eu não saberei celebrar meu aniversário.


Saberei eu?  
Saberás tu?
Saberá ela?
Saberemos nós?
Sabereis vós?
Saberão eles?


"já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era"

Minifesto, de Paulo Leminski

domingo, 3 de abril de 2011

Ah, se vá

 "Subo nesse palco, minha alma cheira a talco
como bumbum de bEbê, de BeBÊ.
Minha aura clara, só quem é clarividente pode VER.
PoDE ver!"

Palco, na voz de Djavan

As coisas andam bem diferentes, no entanto sinto certa dificuldade para identificar o que realmente mudou. Parece tão sutil, tão mimetizado à vida já vivida que se torna uma dessas palavras-chave para se completar um  caça-palavras ou uma dessas peças-chave que se escondem na multidão de outras peças mais, dificultando a construção do nosso quebra-cabeça. Entretanto, as coisas andam bem diferentes.
Foram tantos os movimentos, tantos corpos, tantas idéias... Tantos e tantas que me deixaram tonto! Inebriado que estou, passo a olhar a realidade de maneira mais irracional, animal. Ligado estou à cada parte do meu corpo... Meu contato com a dança tem provocado parte dessas perspectivas, olhares espalhados pelo meu próprio espaço. O teatro não fica pra trás, ou fica? Se fica, corre e se mostra capaz.
Sinto certa legitimidade no que faço. Tudo parece estar de acordo, embora eu esteja discordando. Afinal, cabe a mim complicar o que certo está. Mania boba ou obsessiva de verificar tudo, entender tudo, explicar tudo. Cansei de psicologar. Quero muito restringir o conhecimento que tenho adquirido à sala de aula. Cansa-me muito reparar em cada ato falho que eu cometo, cada coceira, cada piscar de olhos. Não dá!
Estou amando o curso, ou, os cursos que tenho feito. Psicologia se mostra a escolha certa a cada aula. Todas as áreas parecem me interessar, tudo parece somar ao conhecimento que necessito pra ser psicólogo. Até então, teorias pareciam confrontar umas com as outras, um discurso quase teológico de dono da verdade , parecia emergir de cada vertente. Agora não. Agora elas parecem andar de mãos dadas, somando-se. Psicanálise ainda é minha "menina dos olhos". Ela nos acolhe. Essa semana mesmo eu escrevi no twitter que Freud me entenderia e isso conforta minha alma já tão atormentada.
Continuo estudando teatro e me apaixonando por ele cada dia mais. Estou tão cheio de idéias e a vontade que tenho é a de canalizar tudo isso num processo de criação artística. Vamos ver, né? Enquanto isso continuo a fazer minhas aulas de teatro e participando de todas as oficinas que coincidem com meus horários. 
A dança apareceu na minha vida e tenho flertado com ela. Bebo das suas fontes, pois através delas me sinto mais vivo, mais auto-realizado. É como se fosse tudo o que me faltava até então. Com a dança minha arte parece estar completa. E juntos vamos dialogando e criando minhas instalações efêmeras.
Com tudo, sigo eu nessa vida em auto-relevo, cheia das (falsas) evidências. Continuo lendo meus livrinhos de literatura brasileira minha predileção; continuo a frequentar minhas aulas, prestando bastante atenção, fazendo minhas anotações e curtindo muito meus amigos; continuo, principalmente, a me contaminar por todos os cantos, todos os meios pelos quais eu ando e desando, embriagando-me de todos e tudo.
Descobri que tudo está em movimento, a todo o tempo. Por mais que pareça que não, as coisas vão mudando e nem sempre se encarregam de mostrar explicitamente o que está acontecendo. E tais coisas não param, pois o próprio parar é também movimento, só que lento. E nos acomodamos a novos esquemas, às vezes mais rapidamente, às vezes nem tanto. Mas o divã se encarrega do que nós mesmos não damos conta de carregar. Ah, se vá.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pelo movimento, entre

O corpo ainda vibra.
Provoca outros
tantos movimentos...
Ensaios para uma
vida inteira.

Chega! Chega
de vida vivida
pelas metades...
Chega de meios termos,
meiopasses, meios
e meias estirados
na cama. Embolados.

Há uma racionalidade
no irracional. Um entredito
no não dito que diz
mais do que quando
se almeja expressar.
O jeito é não se
importar mesmo!
E deixar-se falar
por si. Quem?
Sabe-se lá.

Enquanto isso
eu vou compondo
minha dança,
provocando meus
desequilíbrios
no ofício de
ser sem descanso,
sem descaso.

Digo e repito:
viva pela parte inteira,
não pelas beiradas.
Senão você come
as etapas
e se engasga.
E perde direito a tapas
e esfregas, meras
tentativas de
extirpar o insólito
sólido mal
degustado, mal
compreendido.

Viva pelo
instinto, pelo
pulso. Viva pelo
puro movimento
que te mantém
nesta vida.
Viva!

domingo, 13 de março de 2011

The Performer

a Capa:




  

  
 Nota


"O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,"

Não se mate


Carlos Drummond de Andrade



Prelúdio



Esrfeag
                    De                                                                              
                    sA                                                                                                                         Ba                           

Es           
                                                            cor                 
                                              re                                                 
                   
Mer    lha
g
            u        
  
E      x      p      a      n      d      e

quarta-feira, 9 de março de 2011

1° Ato: Toc toC tOc


Na brevidade
 do
tempo
Nessa instalação
efêmera
 o
gesto
se
estabelece
estremece
se

são
Objetos
            contrapostos
 justapostos             
sobrepostos

Expondo 
cada um
uma própria
sinesfera

são
 Corpos Suores Odores e outros Fedores
 compondo dança
compartilhando
partituras
Duras
repetições

Um
contato

uma
Comunhão
O
animado
e o 
ainda
inanimado

Nesse contrato
Textura fina
firme lisa resiste
ao tato Impõe
uma outra medida
Propõe novas
simetrias
Auto-reconhece

Mal sabe
a mente
sobre
o
corpo
tão sabiamente
acordado
sob
o pescoço
dela


Dá-se
comandos
Afasta um
braço
arreda uma
perna
Gira a
cabeça
Balança
o quadril

A mão
tenta enfrenta
abre
a escuta Pede
licença 
Espera ou apenas se
arrasta
com seus pés

Investiga
Atreve-se
no ato
Desata suas
amarras
para poder
sair
do lugar 

Só aí
descobre-se
no Espaço

Obs
O espaço
 tudo aquilo
além
do meu
corpo
Inclusive
meu 
Corpo

2° Ato: Creck!

O corpo em ação
diz o não dito,
busca o esquecido
e depara com
suas verdades e
mentiras.

Até
mesmo seus
silêncios, sem
seu consentimento...
E suas farsas
já impregnadas
em cada centímetro
quadrado, cada
volume cúbico,
cada curva,
cada entorno.

E reverberam
em todos os
músculos.
Colide uns nos
outros: expõem
fraturas.

Cá se
apresenta:
O corpo mutilado,
de ossos serrados,
aos cacos!

Limpa-se
a ferrugem.
Solda!
Aproveita
e se encharca
de óleo.

Improvisa-se
um ritmo,
deixa-se o
som levar
o corpo levando
a mente.
E então, 

Passo a
passo, pé ante pé
deixa-se
germinar
naquele chão.


O corpo se
contrapõe: procura
os limites. Estica:
vira daqui                                                     pr'ali.
Vai e volta. Contorna,
atravessa, segue
em frente e
corre
obedecendo
somente o
instinto.

Para! 

Quebra-se
em ângulos obtusos,
agudos, até
ficar reto e
se esparramar
num solo
fértil.

O organismo
retrai. Encolhe.
Engloba.
Encaixa-se
numa placenta
imaginária e
se prepara:

Respiração ofegante, 
pulsante!
O sangue corre
por suas
veias,
insufla o
pulmão.
Pensa na
mãe natureza,
transpira por
suas glândulas
e provoca o
coração.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Epílogo  

Esse trabalho é fruto da oficina 'Instalações Efêmeras' com a artista Dudude Herrmann. Foi um processo de descoberta, o qual desencadeou numa nova consciência do meu corpo visceral e somático. Pude me arriscar, reciclar, inovar e principalmente me perceber. 
Ao fim dessa experiência, pensei na melhor maneira de reportá-la, na sua intensidade, aqui para o blog e cheguei a idéia de fazer essa "exposição" The Performer, traduzindo em versos, imagens, vídeos, sons e em muitos outros movimentos tudo aquilo que experenciei.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O despertar de um pessimista

ou Uma noite à luz do dia

O sol lá fora surgia
e da janela o
chamava pra
vida: acorda!
Esfrega, puxa,
espicha e grita:
sai de mim, preguiça!

Lençol, travesseiro,
cama, pijama, chinelos,
óculos... Cadê os
meus óculos?
Levantara da cama,
olhos semicerrados
cambaleara até
alcançar o som: play!
Ligava-se para
o dia.

A música tardia veio
dar sentido àquilo
que já não existia.
Meros trechos mal encaixados,
versos desencontrados que
se reuniam pra fazerem
parte de um passado
encaixotado.

E não veio sozinha,
mas sim equiparada,
quero dizer, bem acompanhada
de muitas outras estrofes,
de canções várias,
verdadeiras traduções
de sentimentos
afônicos, atônitos
pelas circunstâncias.

Arrastara-se até
a janela. O céu de
azul clarinho carinhava
sua cuca, com a mão
de encontro à nuca
dera-lhe um
puxão de orelha.

Xícara de café
na mão, biscoito
de nata. Café-da-manhã
perfeito para seguir
satisfeito o resto
da vida cumprida.

Não fosse os
mesmos deveres
compridos
todos os dias. Não
fosse os mesmos
problemas. Não
fosse as mesmas
questões, as mesmas
paixões. Não fosse eu,
não fosse você.
Até daria.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Terminou? Mas pelo twitter?

Minha tia Marta, que mora no Rio, sempre que vem a BH trás para mim as revistas O Globo que saem no jornal todo domingo. Além de ótimas matérias sobre decoração, entrevistas com artistas de todas as áreas e uma coluna da escritora Martha Medeiros, nela também tem um chargista bastante gente fina...
Pois bem, em homenagem ao Valentine's day compartilho com vocês o deboche da vez:




terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Ulisses e Lorely:

A Origem da Primavera ou A Morte Necessária em Pleno Dia

, queria eu poder descrever aqui com a mesma linguagem primorosa da Clarice Lispector sobre o seu livro Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. É tão lindo, de uma delicadeza imoral. Clarice acaba por nos deixar estupefatos, em puro êxtase. É um verdadeiro convite ao descobrimento do nosso mundo. Um desabrochar, um permitir, uma coragem e tanta!

"amor será dar de presente um ao outro a própria solidão?"

Provei de uma alegria mansa. Deparei com as minhas angústias ali descritas, de uma maneira tal, que eu jamais poderia exprimir por mais que eu me espremesse! Ela nos toma pela mão e nos leva a uma descoberta plena de nós mesmos através da dor através do amor!

"Naquela hora da noite conhecia esse grande susto de estar viva, tendo como único amparo apenas o desamparo de estar viva. A vida era tão forte que se amparava no próprio desamparo."

Está aí o que eu preciso. Ter a coragem necessária de me amparar no desamparo, de me equilibrar nessa corda bamba, de ser por mais que me doa, por mais que eu me sinta frágil... E quando o aperto chegar, quero poder rezar como nossa querida Lorely  faz no seu tão amiúde desespero:

"alivia minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém."

E toda essa descoberta não seria mesmo possível sem que Deus estivesse ali para amparar, quero dizer, sem que Ulisses estivesse ali para desamparar, digo regar, adubar mesmo de longe. Era preciso ter paciência e aguardar pela primavera. E Ulisses a guardou:

"– Lóri, disse Ulisses, e de repente pareceu grave embora falasse tranquilo, Lóri: uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra pra frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."

E nessa espera Lóri foi se desencontrando do mundo, foi se desconhecendo no espelho, foi se despindo de muitos outros conceitos que nem ouso balbuciar. Lóri se desnudou até sentir-se crua o suficiente para dizer:

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Aguente!

"De repente Lóri não suportou mais e telefonou para Ulisses: 
 - Que é que eu faço, é de noite e eu estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta, no escuro. 
Houve uma pausa, ela chegou a pensar que Ulisses não ouvira. Então ele disse com voz calma e apaziguante.
- Aguente!"

Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres

Clarice Lispector

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Da nossa nudez

E a gente se expõe
de corpo inteiro.
E a gente se desnuda
prum mundo mundo
vasto mundo...
E compartilha 
dessa nudez de quem
apenas vive
e não desiste;

E digo mais:
A gente se entrega,
às vezes, sem
a menor cerimônia.
E depois chora
e se demora
mais um pouco
a passar...
A gente ora!

O que podemos
fazer? Se ser humano
é ser assim?
É se despir
de seus
conceitos,
é se expor
sem um
receio...

Às vezes machuca
e fica feio pra burro!
Ferida sangrando
por fora,
coração ardendo
por dentro.

Mas não há
outro jeito,
senão
subverter
todos os medos
e sublimar
todos as
nossas mágoas -
no travesseiro.

- À nudez nossa de cada dia, amém!

"e o que não é maleável deixa de ser nobre,
nem era amor aquilo que se amava.

Nem era dor aquilo que doía;
ou dói, agora, quando já se foi?
Que dor se sabe dor, e não se extingue?
(Não cantarei o mar: que ele se vingue
de meu silêncio, nesta concha.)"

Nudez

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Como um troféu

 ou Poesia do incômodo

Como um troféu,
você o pôs
na estante.

Expôs
e repôs...
expôs e repôs
no mesmo
instante.

Esperou o tempo pairar,
a poeira baixar
de vez naquela
prateleira.

Esperou o clamor
acabar, o grito se calar,
o choro secar, e o seu troféu,
enfim, empoeirar.

Está ali o seu troféu...
Já tão distante...
Tanto faz,
pouco importante...

Caminhão de mudança
estacionado no asfalto.
Coração abandonado
na estante.

Não cabera na caixa,
mas o projetara
naquele instante.
Não cabera na - nova - casa,
mas o proporcionara
aquele lance.

Como um troféu,
você se atreveu
a esquecê-lo
na estante...

(Sem supor
o que o
troféu
iria sentir.)

- Mas ele sentiu!

sábado, 15 de janeiro de 2011

...

Ah, o mar,
nós dois
uma vez
nesse
reencontro.
Espero
nas suas
águas
me
encontrar.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Me vê a conta!

Pobre coração
assim aflito.
Quer ser
meu amigo?
Eu te mostro
um abrigo.

Da sua boca
as palavras
escorrem
feito lágrima.
Que agora
são várias.
E você nem
as enxuga.

Pobre coração
ágil, tão frágil
nesse contágio
improrrogável...

Você pede a conta:
- Por favor.
E a notinha
não vem,
o cartão
falha
e a máquina
agarra aquele
papelzinho.

Pobre coração
assim sozinho.
- Só.
Só precisa
de carinho.
- S...
Só quer
ficar juntinho.
- .
Só precisa
de um tempinho.

Quer se refugiar,
ficar segurosozinho.
Procura estar
assim, mais
alegrinho...
pra poder continuar
brincarjuntinho.

Pobre coração
avaçalado.
Há tempos você
vem meio calado...
Deve estar meio
cansado de
estar sempre
só – acompanhado.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Naufrágio dezembro

Em 2009, pedi por um terremoto ao ano que se iniciava - 2010. Quis colocar um basta em toda mesmice e jogar fora todo aquele antiquário... Mal sabia eu que os meus desejos poderiam ser realizados. E veio o ano novo e fui atropelado. Cai estatelado no chão e os tremores atrapalhavam a minha subida. Houve um tempo em que eu preferi ficar quietinho, sem nada tentar... Esperando só as placas tectônicas voltarem ao seu lugar.
Era janeiro e passado o estresse do vestibular eu resolvi fazer as malas e viajar pra Pasárgada. Pensei em dar um tempo nesse blog, para me renovar. Inovar. Não que hoje eu esteja super satisfeito com os meus "posts" aqui do blog, mas eu queria elevar o nível. Ter um cuidado melhor com a palavra dita. 2010, nesses quase três anos de Meu Irritante Eu, foi o ano em que eu menos escrevi... Foi o ano que em que suprimi aquilo que, antes, me atrapalhava: Adeus, Irritante eu. Agora tudo é Meu!
Nesse cuidado com o texto, acabei por me aproximar da poesia. Maneira esplêndida de se escrever com muito esmero, de elevar o espírito, de se encantar com a vida passada à limpo nas palavras de um poeta. Daí fiz minha retrospectiva, dessa vez, estendendo todos os meus versos num varal, ops!, sarau. E enxerguei ali a história de um ano que não acabava mais, de um difícil dezembro que insistia em continuar a me afogar. O mar, na sua ressaca procurando me envolver naquela água, gelada! Já não me bastasse a boa parte dos 365 dias que passei remando contra a maré... E no fim, dezembro me afogou.
Surjo na praia, vejo que já é janeiro e nem sei bem quantas horas se passou. Só sei que em algum instante naufraguei. Aqui estou, 2011. E nesse recomeço, transcrevo poesia roubada da estante, poesia de um mestre que muito sabe da vida:

O Mundo é Grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar. 

Carlos Drummond de Andrade

- Adeus Pasárgada, adeus!